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Um jogo de cartas marcadas em que a educação está fadada a perder está tirando o sono de mais uma diretora de escola da rede pública estadual. Perda de peso, dificuldade para dormir e crises de pressão alta têm sido a rotina de Sandra Ires desde que começou a ser pressionada para deixar a diretoria do Ceebja Mathilde Pissaia Pelanda, em Fazenda Rio Grande.
“Emagreci 12 quilos em 15 dias”, afirma a educadora, com a voz embargada. Ela dirige o Ceebja há cinco anos, com bons resultados pedagógicos, o que é confirmado pela formatura de 30 alunos do Ensino Médio neste primeiro semestre de 2023.
A formatura de turmas completas é rara nos Ceebjas, onde os alunos têm mais dificuldade em concluir os estudos, porque a maioria já está trabalhando. Na contramão dessa tendência, os(as) estudantes do Mathilde vão comemorar a formatura em julho, com cerimônia e festa na pizzaria em seguida. “Espero estar diretora até lá”, diz Sandra.
A educadora relata que a pressão para deixar o cargo começou no dia 8 de novembro de 2022, quando foi convidada para uma reunião no Núcleo Regional de Educação da Área Metropolitana Sul. “Achei que era uma reunião de rotina, mas quando cheguei lá começaram a lavrar uma ata apontando várias supostas falhas na escola”, conta.
A falta de um quinto integrante brigada escolar foi uma das irregularidades apontadas pelo Núcleo de Educação. As escolas da rede estadual devem ter uma brigada com cinco educadores(as), regra impossível de cumprir porque o Mathilde não tem cinco professores QPM para compor o grupo.
“Somos uma escola de jovens e adultos. A rotatividade de professores é a cada seis meses e eu não tenho o quinto elemento da brigada, pois eu não tenho cinco QPMs e, dos PSS que estão ali, ninguém quer fazer o curso”, explica Sandra.
O Ceebja Mathilde Pissaia Pelanda tem 240 alunos matriculados, de 16 a 70 anos de idade.
Ameaça
A ata dessa reunião em novembro do ano passado lista outros problemas na escola, como a falta de assinaturas nas fichas dos estudantes, já corrigidos. Em seguida, o documento registra uma ameaça da direção do Núcleo à diretora Sandra: ou ela deixaria o cargo ou seria aberta investigação contra ela.
Investigar suspeitas de irregularidades é obrigação de todo administrador público, mas os(as) dirigentes do Núcleo de Educação registraram em ata a possibilidade de desistir de apurar as falhas que apontaram, desde que Sandra entregasse o cargo de diretora.
Depois de apontar genericamente “negligenciamento na gestão pedagógica, administrativo-financeiro e democrática”, a ata lavrada no NRE registra que foi “estipulado prazo de quarta-feira (16/11/2022) para o posicionamento da gestora, com a entrega do ofício de desistência ou início do procedimento de apuração de insuficiência”.
Sandra decidiu resistir e não entregar o cargo de diretora. Com a recusa, as pressões do NRE aumentaram. “Me ligaram do Núcleo e a pessoa me disse ‘pede pra sair’”, relata. A pressão incluiu assustar a diretora com a possibilidade de responder criminalmente pelo furto de equipamentos do colégio, ocorridos em 2022. Na época, a escola foi invadida e uma TV foi levada.
“A pessoa que fez a conversa com a gente teve a petulância de perguntar se não foi facilitada a saída da TV. A escola não tem segurança, não tem câmeras, a rua de trás não tem iluminação, é uma escola fácil de entrar, mas aproveitaram para fazer mais pressão”, conta Sandra.
Discriminação
Apesar das preocupações com as ameaças, Sandra tocou a administração da escola normalmente até que em fevereiro veio outro alerta de que as pressões para deixar o cargo continuariam. Naquele mês houve um evento de formação de diretores de escola em Foz do Iguaçu. Sandra se inscreveu, mas não pôde participar.
“Fiz todos os trâmites, pré-inscrição no evento, reserva de hotel em Foz, tudo certinho. Uma semana antes do evento recebo uma ligação do NRE às 8h dizendo que eu não poderia ir. Pedi que me enviassem um e-mail da chefia do Núcleo informando isso oficialmente e o motivo, pois ainda estou diretora. No dia seguinte cobrei o e-mail e disseram que a chefe não poderia mandar o e-mail”, conta Sandra.
Outro ponto apontado pelo NRE para Sandra deixar o cargo é o índice de frequência dos alunos. “A Seed exige frequência mínima de 85%, mas nos Ceebjas temos uma situação diferenciada, é educação de jovens e adultos, nós nunca vamos conseguir 85%, pois os estudantes trabalham”, diz Sandra. Nesta semana a frequência no Mathilde está em 59,8%, entre as cinco melhores da Área Metropolitana Sul.
O pesadelo de Sandra se renovou na semana passada, quando foi informada por funcionários do NRE da publicação no Diário Oficial de autorização para formar uma sindicância sobre o trabalho dela na escola. “Tentei obter informações na Seed, quero saber em que pé está esse processo, em que ponto está, mas não me informam, ninguém fala, ninguém dá explicação, é a lei da mordaça”, diz.
Apoios
A Secretaria de Assuntos Jurídicos da APP está orientando Sandra como proceder em relação ao NRE. “A APP está me apoiando totalmente. Eu já não estou sozinha. Quando vêm as cacetadas eu já aviso o Sindicato, a gente está junto. O que mais me importa é que meus alunos estão comigo”, diz a diretora.
Sandra tem também o apoio de professores da escola, como Franciele Aparecida Pereira Santos. “Está difícil. Eles estão acabando com a saúde da Sandra. Ela está sendo perseguida numa caça às bruxas para deixar esse cargo, que deve estar prometido politicamente para alguém”, afirma.
Franciele aponta que as cobranças de cumprimento de metas nas escolas impedem uma educação humanizada. “A Seed quer uma direção dura, que não pensa em ninguém. A Sandra é uma diretora humana e parece que isso não serve para esse governo”, comenta.
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